terça-feira, 3 de abril de 2012

Divagações xamânicas

Divagações xamânicas
Por Leo Artese

O xamã é um poeta, um mago, um curandeiro, um adivinho. Podemos afirmar que ele é tudo isso, porém ele destaca-se pela sua capacidade de viajar pelos mundos (espiritual / material) Seus principais objetivos estão ligados à cura, desenvolvimento do poder pessoal, acesso ao conhecimento perdido.

A cultura xamânica data de aproximadamente 30.000 anos, dando origem a varias outras culturas como os Druidas, Vedas, etc. A palavra xamã vem do tungue (saman), aparentado com o termo sânscrito sramana = aquele que é inspirado pelos espíritos.

Os primeiros tratados vêm da Sibéria (altaicos, iacutes, buriatas, tungues, vogul, samoiedos, etc.). Uma fonte acredita que eles passaram pelo estreito de Bering, ou por uma ponte terrestre que ligava os dois continentes e se espalhavam pelo mundo.

Tanto no México, USA, Austrália, África, América do Sul, Sibéria, é interessante notar similaridades em alguns rituais e na cosmologia de todos desses povos xamânicos no mundo, faz pensarmos que todos vieram de uma mesma fonte de conhecimento.

Os xamãs acreditam que as doenças se originam da mente não consciente. É o que hoje se estuda muito na medicina psicossomática. Os xamãs decidem que tipo de doença deve ser tratada. Ela pode ser causada pela invasão de um elemento estranho ao corpo, ou pelo abandono da alma do corpo e seu aprisionamento em uma das Regiões do Espírito. Eles decidem se vão utilizar viagens de recuperação da alma, ou se vão utilizar plantas, massagens, etc.

Agora, se a doença se origina na mente não consciente, como acessá-la? Este é o grande poder do xamã, o mestre do êxtase.

Quando falamos em viagens xamânicas, estamos falando em êxtase, em samadhi, nirvana, regressões, enfim o que hoje em dia é muito discutido: os estados alterados de consciência. É aonde vamos buscar nossa criança interna, nosso lado animal - irracional, desprovido de regras sociais. É o encontro com nossa essência, nosso verdadeiro ser.

É o homem crístico, liberto de tudo o que prende aos limites humanos, transcendendo a sua própria consciência.

É o poder da imaginação. Tudo o que já foi criado, antes foi imaginado. Não somos imagens de Deus?

Para os xamãs, a imaginação é muito mais do que uma atividade cerebral, é o veículo que os leva para esferas desconhecidas.

Os xamãs sabem que todos os elementos do meio ambiente estão vivos e possuem sua fonte de poder no mundo espiritual. Estão carregados de vida e devemos nos harmonizar com todos os reinos.

Os xamãs usam instrumentos de poder que lhes confere força ritual: como o bastão cavalo para dançar, que simboliza o bastão do mago; o cachimbo que é o sopro da alma humana; os cristais e pedras para dominar espíritos, para curar à distância, evocar clarividência e sabedoria. Eles dizem que os cristais são pedacinhos do céu. O tambor tocado de forma monótona e repetitiva atinge o Sistema Nervoso, através das baixas freqüências e levam ao transe.

Os trajes rituais representam a morte do corpo terrestre, vibra pela presença dos espíritos que nele habitam. Propicia forças espirituais indispensáveis para o transe.

Canta suas canções de poder para despertar seu guardião e outros auxiliares, atuam como uma ponte psicológica entre o mundo espiritual e o material (mantras, pontos de candomblé, cantos gregorianos, etc).

Sua dança representa o movimento cósmico, onde se junta o Céu com a Terra, além de esgotar a resistência muscular e nervosa e assim, não comandando mais nada o espírito se liberta do corpo (derviches, gregos, dança de Shiva, giras...).

Sua vocação é demonstrada por perturbações no comportamento (loucura controlada), vem também por transmissão hereditária, por decisão pessoal onde passa por provas (jejuns, recolhimentos, sacrifícios corporais...) ou é eleito pelo clã. Iniciado pelos espíritos, tem uma vivência de morte simbólica para posterior ressurreição. Permanece dias em locais isolados sem falar, comer, e, quase sem respirar. Geralmente conta em suas provas, ao regressar de suas viagens, que seus ossos foram arrancados, sua carne raspada, tem a cabeça decepada, isto é o coma iniciático. Ele deve morrer em seu corpo terrestre para renascer em corpo astral. Esqueletos de pessoas, pássaros ou animais, são alguns dos ornamentos dos siberianos, simbolizam o tempo do nascimento do xamã - meio homem - meio animal.

Muitas iniciações também envolvem atravessar brasas (Manchus), nadar sobre o gelo, beber sangue (goldos). Entre os Iacutes, no alto de uma montanha, com o mestre no território das doenças, ensina-se a reconhecer a doença e curá-las. Para cada parte do corpo ele cospe na boca do outro, que deve engolir o seu cuspe para diagnosticar a doença. Os Buriatas faziam a purificação pela água (batismo) com plantas aromáticas e algumas gotas de sangue de bode, para invocar os ancestrais.

Faziam também parte das iniciações o calor (tenda do suor) e com plantas de poder, que proporcionavam o arrebatamento místico, viagens astrais, etc. Parte-se de um princípio que neste mundo nada é dado de presente, tem que ser aprendido.

Aquele que tem por destino ser xamã experimenta um certo mal estar, um certo tédio pela vida, tédio de viver num mundo demasiadamente seguro, sensibilidade voltada para o misticismo e para as forças do inconsciente. Trata-se de um sacerdócio. Muitas pessoas querem ser xamãs sem conhecerem as obrigações inerentes a essa função, a entrega. É uma missão de utilidade pública.

Entre os siberianos o panteão é dividido em duas classes de deuses: os superiores e os inferiores. O rei Art Toin Aga, que reside no topo da hierarquia espiritual é totalmente insensível aos problemas humanos e, por isso, o xamã trata com deuses menores que o acompanham.

O todo poderoso senhor do infinito Ulon Toion - divindade infernal - reina num plano subterrâneo no terceiro céu para os lados do ocidente - simboliza a existência cheia de lutas e sofrimentos inevitáveis. Mas com remorsos ele concede o fogo aos homens e é ele quem enviou a águia para aliviar-lhes das provações - ao seu redor uma multidão de espíritos maus, com os quais os xamãs mantêm relações familiares.

Os xamãs são os únicos a penetrarem no mundo dos espíritos errantes e dos demônios. Ele é um indivíduo sempre disposto e sabe que o segredo não reside no que você faz pelo seu corpo, mas no que você não faz.

Para ter uma percepção xamânica do mundo é necessário desaprender para aprender - apagar a própria história. O desenvolvimento da vontade se exerce a partir de uma abertura localizada no umbigo e se alarga na medida em que o guerreiro desenvolve poder, a vontade sai como fibras luminosas (nadis).

O xamã é o especialista do invisível. É considerado um indivíduo estranho, pois ele está fora do mundo. Vive fora dos padrões normais. O universo do xamã é um mundo simbólico onde ele atribui mais poder que a própria realidade.

www.xamanismo.com.br

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